Modéstia dos olhares

sábado, 23 de abril de 2011

      "Quase todas as paixões, que fazem guerra ao nosso espírito têm origem nos olhos mal guardados, porque é a vista dos objetos exteriores que excita, a maior parte das vezes, os afetos desordenados". (Santo Afonso Maria de Ligório) "O pensamento nasce do olhar, o desejo, do pensamento; depois, ao desejo sucede o consentimento". (Santo Agostinho). Eva só cai, depois de ter olhado, com demasiada atenção, para o fruto proibido; parece-lhe bonito e bom; pega nele e perde-se. "O demônio precisa apenas dos nossos primeiros avanços" (São Jerônimo); "basta começarmos por lhe entreabrir a porta, ele saberá por si abri-la completamente. Um olhar bem consentido transformar-se-á numa faúlha do inferno que fará perecer a alma" (Santo Afonso Maria de Ligório). Por esse motivo, o Ven. César de Bus, depois de ter cegado, exclamava: "Perdi os meus dois maiores inimigos".

"Nosso Senhor foi o primeiro a ensinar-nos esta modéstia dos olhos: se o Evangelho observa por vezes que Ele ergueu os olhos para olhar os Seus discípulos (S.Lucas, VI, 20), é para dar a entender que Ele os conservava ordinariamente baixos" (Santo Afonso Maria de Ligório). Por isso o Apóstolo chama a atenção dos seus cristãos "para a doçura e modéstia de Jesus Cristo" (Cor., II,1). A exemplo d'Ele, os santos são tão reservados que, para se livrarem de olhar para qualquer objeto perigoso, conservam os olhos postos no chão e privam-se até, muitas vezes, de ver os objetos mais inocentes.

São Bernardo não conhecia as janelas da sua igreja; São Pedro de Alcântara nunca via os seus irmãos; São Luís Gonzaga nunca fitava o rosto da mãe. Santa Clara censurou-se asperamente a si próprias porque um dia, ao erguer os olhos para ver a hóstia consagrada, olhara involuntariamente para o sacerdote.

"Por aqui se vê quão temerárias e loucas são aquelas religiosas que, sem serem Santas Claras, querem todavia olhar para os pátios, para os locutórios, para a Igreja, para tudo enfim que se oferece à sua curiosidade, até mesmo para as pessoas de um outro sexo, e querem ser isentas de tentações e do perigo de pecar". (Santo Afonso Maria de Ligório).

São Bento, São Jerônimo e muitos outros deviam as suas terríveis lutas à recordação de pessoas que tinham visto demasiadamente.

Todavia "o que mais prejudica não é tanto a vista como o olhar refletido, com os olhos fixos e a discernir em demasia" (São Francisco de Sales); "se, por acaso, os nossos olhos deslizarem para qualquer pessoa, não os detenhamos em nenhuma". (Santo Agostinho)

Esses olhares de pormenor e de análise sobre "a enganadora e frágil beleza dos corpos" (Bossuet), são sempre prejudiciais; "quando mesmo se repelissem os maus pensamentos que o olhar faz nascer e que lançam ordinariamente a perturbação no espírito, ficaria sempre alguma sombra na alma" (São Gregório). Ou ela olhe ou se olhe ou se exponha a ser olhada, a virgem deve lembrar-se de que "os olhos são os primeiros ladrões da castidade e os primeiros solicitadores da impureza". (Pe. Saint Jure)

"Felizes pois as virgens sagradas que não querem ser o espetáculo do mundo e que desejariam ocultar-se a si próprias sob o véu sagrado que as envolve" (Bossuet). O B.Ange d'Acri cegou; Deus abria-lhe misericordiosamente os olhos para ele poder celebrar a Santa Missa e recitar o Ofício; depois fechava-lhos. Assim, abramos os nossos olhos para vermos a hóstia santa e cumprirmos os nossos deveres de estado; depois fechemo-los, guardemos este "selo sagrado que o esposo colocou na nossa face, para que não aceitemos outro amor". (Oficio de Santa Inês)
Afetos. - "Meu Deus, eu tenho às vezes terrores, quando examino o conjunto da minha vida e me detenho nos pormenores. Tudo me espanta na minha alma, tudo me espanta no uso que fiz do meu corpo. Os meus pés não me levaram nas boas obras. A vista, o ouvido, o olfato, a língua, tudo Vos ofendeu, Meu Deus, tirai-me da vaidade e reconduzi-me a uma vida angélica". (Atribuído a são Bernardo)
Exame. - Tenho eu grande cuidado com a modéstia exterior; imagem da ordem interior? - O meu porte é digno, austero, religioso? - Sou, só com Deus, tão respeitosa, como na presença das minhas superioras? - Não há nada de relaxado ou de afetado na minha pessoa? - Como guardo os meus olhos naquilo que me diz respeito? relativamente às pessoas que vejo habitualmente? - nas igrejas, nas ruas, nas viagens?

Resolução.
Ramalhete espiritual. - "As virgens do Senhor deve ser irrepreensível no seu porte, na maneira de andar, no olhar e nas palavras". (Santo Agostinho)
(Ensaio sobre a castidade, pelo Pe. F. Maucourant, edições Paulistas, ano de 1959, com imprimatur)

PS: Grifos meus.
Fonte:http://a-grande-guerra.blogspot.com/

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