"Quem encontrará a mulher talentosa?"

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Por Liliane Mª
(Papa Bento XVI, comentário ao livro dos Provérbios, Outubro de 2005)

"Quem encontrará a mulher talentosa?
É muito mais valiosa que as pérolas.
O coração do seu marido confia nela e não lhe faltará compensação.
Ela faz-lhe o bem, e nunca o mal, todos os dias da sua vida.
Procura a lã e o linho, e trabalha de boa vontade com as suas mãos.
Aplica as suas mãos à roca e os seus dedos manejam o eixo.
Abre a sua mão ao desvalido e estende os seus braços ao indigente.
Enganosa é a graça e vã a formosura: a mulher que teme o Senhor merece ser louvada. Entregue-lhe o fruto das suas mãos e que as suas obras a louvem publicamente.

Por uma vez, em lugar de concentrarmo-nos sobre o Evangelho
(a parábola dos talentos) meditaremos sobre a primeira leitura, tomada do livro dos Provérbios, que fala da grandeza e dignidade da mulher.
O elogio, ainda que seja muito belo, tem um defeito que não depende da Bíblia, mas da época e da cultura que reflete.
Reflete uma visão masculina:
bem-aventurado o homem que tem uma mulher que lhe faz vestes, que honra a sua casa, que lhe permite caminhar com a cabeça erguida.
Hoje as mulheres não se entusiasmam com este elogio.

Para conhecer o autêntico e definitivo pensamento bíblico sobre a mulher, deve-se olhar para Jesus. Ele não era como hoje se diria, «feminista»; não fez nunca uma análise ou uma crítica explícita das instituições e das relações entre classes e sexos. Na sua missão, a diferença entre homem e mulher não tem nenhum peso. Ambos são imagens de Deus, ambos necessitam da redenção. Mas por este motivo precisamente é capaz de desmascarar as deformações que levaram a submeter a mulher ao homem. Jesus é livre perante a mulher: não a vê como uma insídia ou uma ameaça, e isto permite-lhe romper muitos preconceitos.

Jesus não se nega a falar com mulheres, a ensiná-las, a fazer delas discípulas suas. Ressuscitado, mostra-se em primeiro lugar a algumas mulheres que se convertem deste modo nas suas primeiras testemunhas. Dos seus lábios não sai nunca uma palavra de desprezo ou de ironia pela mulher, algo que era uma espécie de lugar-comum na cultura da época, penetrada pela misoginia. A saúde da mulher é tão importante para Jesus como a do homem. Por isso, muitos dos seus milagres afectam as mulheres.

Comove-me um em particular: a cura da mulher que há dezoito anos «estava encurvada e não podia de modo algum endireitar-se» (Lucas 13, 10 e seguintes). Jesus chamou-a e disse-lhe: «Mulher, fica livre da tua enfermidade». Imediatamente se endireitou e glorificava a Deus. Essa mulher encurvada, a quem Jesus grita «fica livre!», e que pode levantar a cabeça, ver o rosto das pessoas, ver o céu, glorificar a Deus, sentir-se também ela uma pessoa, é um símbolo poderoso. Não é só uma mulher, representa a condição feminina; é essa inumerável quantidade de mulheres que não caminham encurvadas por causa de uma enfermidade, mas pela opressão à qual foram submetidas em quase todas as culturas: Que libertação, que esperança encerra este grito de Jesus.

Um dos factos positivos da nossa época é a emancipação das mulheres, a igualdade de direitos. Na carta apostólica sobre a dignidade da mulher («Mulieris dignitatem»), João Paulo II sublinhou a contribuição que a Igreja quer oferecer a este sinal dos tempos. A mulher (como o homem) tem um aliado poderoso neste caminho de autêntica libertação: o Espírito Santo. Ele mesmo «une-se ao nosso espírito para dar testemunho de que somos filhos de Deus» (Romanos 8, 16) e nos dá o verdadeiro sentido da nossa dignidade e liberdade. Em hebreu, o nome do Espírito Santo, «Rúah», é feminino. Mas, sem sublinhar demasiado este facto, é certo que se dá uma afinidade, uma conivência, uma certa cumplicidade entre o Espírito Santo e a mulher. Ele é chamado o Paráclito, que significa consolador, e «Espírito de vida»; consolador e «Espírito da vida»; que «acalenta o que está frio, cura o que está enfermo». E, quem melhor que a mulher compartilha, humanamente, estas prerrogativas?

Diz-se que a filha de um rei da França tratava muito duramente a sua jovem servente. Um dia, irritada, disse-lhe: «Não sabes que sou a filha do teu rei?». A jovem respondeu-lhe com calma: «E tu, não sabes que eu sou a filha do teu Deus?»."

*** DO BLOG “A DIGNIDADE DA MULHER CATOLICA”



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